O Pano de Fundo, post anterior, conjugado com o desenrolar das cenas em palco contem ingredientes que configuram uma teatralidade dramática. É a visão impressiva de uma sociedade em crise grave: autores, ensaiadores, contra-regra, actores e assistência não se entendem. A dúvida existencial expressa por Garret impõe-se: “Romeiro, romeiro... Quem és tu? – Ninguém!”
O desempenho dos intervenientes leva-nos insistentemente a recordar o Gil Vicente postergado nas escolas, e a procurar para além dos juízos de farsa algum consolo nos destinos apontados no Auto da Barca do Inferno.
Mas é grande a inquietação gerada pela lembrança da Arte de Furtar, de início publicada em nome do padre António Vieira e posteriormente atribuída a António Sousa de Macedo. Segundo António José Saraiva e Óscar Lopes, “É um depoimento literário muito completo e variado acerca da realidade social do tempo de D. João IV; nela se espelham ao vivo todos os principais problemas em que se debatia a administração interna e todo o jogo das forças sociais. Trata-se, em grande parte, de um panfleto desmascarador dos vários tipos de logro e irregularidade, ao longo dos diversos escalões da sociedade, desde os mendigos artificialmente chagados e das pequenas trapaças de artífice mecânico ou de regateira, até às grandes roubalheiras e compadrios do alto funcionalismo.”
E há ocasiões em que apetece debandar com Manuel Bandeira:
“Vou-me embora para Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura...”
E ocorre lembrar a determinada energia subjacente em José Régio, poeta de rotura da minha juventude, no seu Cântico Negro, dos Poemas de Deus e do Diabo:
“Vem por aqui – dizem-me alguns...
Eu tenho a minha loucura!...
Deus e o Diabo é que me guiam,
mais ninguém...
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!”
Mas a Mensagem de Fernando Pessoa mostra um caminho, pondo em evidência que “o mar sem fim é português... e faz a febre em mim de navegar”. E aponta como faroleiro D. João o Segundo, do qual
“Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.”
Pode, então, imprimir-se um grande sopro na força anímica, como ensina o mesmo Pessoa em O Mostrengo:
“O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
...
E disse: Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?
E o homem do leme tremeu e disse:
El-Rei D. João Segundo!
...
E disse no fim de tremer três vezes:
Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”
Ser descontente é ser homem. Apesar de ventos e marés, navegar é preciso!
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