Do post "O Modelo Gendármico da GNR", de 28 de Dezembro p.p., ficou a interrogação:
Quem são, como vivem e trabalham esses "servidores da ordem, receados e respeitados, que desempenham tarefas cada vez mais diversas e complexas"?
A instituição corpo militar de polícia, a organização GNR e a profissão Guarda submetem os seus militares a um duro conjunto de regras presididas pelos valores já referidos. Tudo isto numa sociedade em que predominam o individualismo, o relativismo, o hedonismo, o materialismo, os excessos de liberdade... O choque de valores é gritante e evidencia a nobreza daqueles que, em conformidade com o dizer de Platão, conseguem alhear-se do brilho da cidade, para serem acima de tudo "guardas da cidade", concentrando e conservando na alma o ouro e a prata "que receberam dos deuses".
A questão "como vivem e trabalham os guardas" é particularmente afectada pelo facto de, atenta a necessidade de manterem disponibilidade e prontidão para o serviço, estarem obrigados a terem alojamento em quarteis ou na sua proximidade imediata.
A vivência de quartel afecta tradicionalmente o modo de vida dos guardas, caracterisando-os como um grupo social específico, parte integrante da própria Organização, permitindo um maior controlo social interno e dando origem a uma fortíssima interacção nas esferas da vida privada e da actuação profissional. O guarda em família ou na rua, mesmo trajando à civil, não deixa de ser guarda, "está sempre de serviço".
A vida típica de quartel, se bem que permitindo avaliação menos positiva por poder facilitar um "ambiente caserneiro", é um factor fundamental de eficácia, uma vez que proporciona disponibilidade e prontidão aliadas a um forte espírito de solidariedade. Tudo favorecendo a coesão do grupo, a lealdade profissional e o espírito castrense. No caso das habitações de função e das anexas aos quarteis em bairros institucionais, para além das vantagens organizacionais há que ter em conta a obrigatória submissão das famílias a um ambiente militar muito regulamentado, algo fechado. A família do guarda não goza de anonimato, é sempre "da Guarda".
Outro aspecto que muito afecta a vida dos guardas é a grande mobilidade geográfica que lhes é imposta e que muito pesa sobretudo em termos familiares, obrigando ora a prolongado afastamento da família ora a obrigatórias deslocalizações da mesma. Isto torna-se especialmente pesado quando põe em causa a estabilidade familiar, quer porque afecta a profissão do conjuge quer porque implica com a escolaridade dos filhos.
É facto que a dedicação, a disponibilidade e o espírito de sacrifício dos profissionais têm convivido harmoniosamente com o racionamento típico da "marmita" militar. Mas não pode ser ignorada nem menosprezada a realidade, que consiste numa progressiva tomada de consciência da cada vez maior desproporção entre o conjunto da dupla servidão gendármica (militar e policial) e o quadro das retribuições materiais compensatórias. Já Platão ensinava que aos guardas da cidade deve ser prorcionado "salário da guarda que asseguram, em quantidade suficiente... de modo a não sobrar e a não faltar".
No post "O Modelo Gendármico da GNR", de 28 de Dezembro p.p., ficaram interrogações:
Quem são, como vivem e trabalham esses "servidores da ordem, receados e respeitados, que desempenham tarefas cada vez mais diversas e complexas"? Quais são os valores desta comunidade dos guardas, gendarmes, que são pessoas em interacção com as populações e não meros autómatos fardados? Quais são os problemas deste serviço público, muito diferente dos outros serviços, que tem vindo a evoluir ao longo dos tempos e continua a modernizar-se?
Na companhia do trabalho sólido de François Dieu, procuremos resposta para a segunda questão.
Os valores predominantes no dia a dia da vida de cada guarda implicam a existência de uma subcultura, conjunto de regras de conduta, de crenças e de técnicas que orientam a actividade gendármica. Trata-se de alguns princípios escritos e de muitos outros apoiados no costume, que se encontram estabelecidos nas ordens jurídica, deontológica e moral. Tais princípios estão presentes tanto na actividade profissional como na vida privada dos guardas.
Os valores do gendarme, apresentam-se influenciados pelos valores do militar e do polícia e estão fortemente ligados ao interesse geral. Salientam-se os seguintes:
- A DISCIPLINA, assente na organização hierárquica e na lealdade ao comando.
- O LEGALISMO, referência maior dos "soldados da lei" e dos "auxiliares da justiça".
- O CIVISMO, com os deveres de assistência e socorro e a postura de neutralidade.
- A DISPONIBILIDADE, física e mental, em permanência e polifacetada, sempre alerta e em prontidão de marcha.
- A AUSTERIDADE, assente na rectidão e em dignidade de comportamento, desinteressado e apto para o sacrício da mobilidade geográfica.
- A CORAGEM, traduzida na força moral e na firmeza do guarda em todas as situações de perigo, fazendo dele um gestor da violência em proveito da sociedade.
- A SOLIDARIEDADE, conjunto de sentimentos e atitudes que se manifestam num forte espírito de corpo, que unifica diferentes níveis hierárquicos e geracionais.
Reunir tal conjunto de valores, na prática profissional bem como na vida privada de cada um dos guardas-gendarmes e da instituição que corporizam, configura uma situação atípica. E que numa sociedade em que predominam o individualismo e o materialismo não é viável caso não seja suportada por compensações morais mas também materiais.
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