Para além da espectacularidade mediática dos últimos acontecimentos na área da criminalidade violenta, e também por isso mesmo, o Zé Guita vem recordar o que deixou publicado no penúltimo post, "O EIXO DA RODA", para o qual remete.
Sintetizando e insistindo:
- ...não basta produzir reformas nas FORÇAS DE SEGURANÇA;
- ...é indispensável o apoio do SISTEMA JUDICIAL, com o qual devem rodar conjuntamente;
- ...numa sociedade em que a LEI perdeu um sentido comum, nem as polícias nem o aparelho da justiça, por si sós, são capazes de o esclarecer e impor.
O eixo da roda, embora sujeito a alguma corrosão, é constituido por valores permanentes cuja modificação é muito delicada. O perigo está na quebra do eixo, que ocasionará o desequilíbrio e o colapso da roda.
O eixo acompanha a roda no seu movimento mas não anda.
Nem todos os olhos vêem do mesmo modo...
E óculos há diversos, alguns dos quais distorcem a realidade...
Olhares...
Limpeza étnicaO homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter. "Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor. |
13 Agosto 2008 - 00h30
Bilhete postal
Após uma polémica pueril acerca dos eventuais excessos policiais na neutralização do sequestro do BES – um tema em que a teoria nunca casará com a prática –, a família do menor de 13 anos que morreu durante uma perseguição da GNR vai a tribunal para ser indemnizada.
Ou seja: uns senhores resolvem fazer um assalto em pleno dia, a GNR apanha-os em flagrante, estes põem-se em fuga, tentam atropelar um dos militares que se salvou por pouco, desobedecem às ordens de paragem, tudo isto com um menor dentro da carrinha.
As autoridades tentam imobilizar o veículo disparando para os pneus, mas um dos tiros acertou num dos passageiros que era menor. Agora os familiares culpam a GNR pela desgraça. O pai que levou a criança para o assalto, esse, deve ser um santo.
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