Numa conjuntura de mudança acelerada a caminho de uma revolução civilizacional, a instabilidade e a incerteza tornam-se avassaladoras. E as revoluções destroem quase tudo, inclusive as organizações, sobretudo as mais distraídas e que se mantenham passivas face ao processo.
Neste quadro, também a Guarda está ameaçada: ideologia e práticas negacionistas, civilismo, militarismo, competição corporativista, falhas no recrutamento e na selecção, insuficiências na socialização e no controlo social, sobrecarga de trabalho, pessimismo, desmotivação, quebra de coesão interna... Tudo gerando factores de vulnerabilidade que podem talhar brechas no espírito de corpo, abrindo caminhos para um processo de desagregação institucional.
As crises são recorrentes e – melhor ou pior - sempre se resolvem, mas desta vez a tensão é grande e desenvolve-se numa conjuntura de grave crise geral. Há que entendê-la e desenvolver esforços equilibrados para uma boa resolução no tocante à sobrevivência da Instituição Guarda. E todos são poucos para colaborar.
Reflectindo sobre tudo isto, ocorre ser oportuno elaborar um estudo relativo ao que se esteja a passar relacionado com stresse organizacional e pessoal e seus reflexos, procurando identificar e sistematizar ideias, sugestões, factos, pistas, trabalhos/bibliografia sobre o tema, de modo a estimular investigação mais sólida para suporte de políticas e estratégias de enquadramento e de gestão, incluindo o diagnóstico de situações e a tomada medidas em tempo oportuno. O presente esboço não pretende mais do que tentar uma síntese estimulante e orientadora para empreendimentos de carácter científico que largamente se justificam.
De um modo geral na função polícia e em particular na GNR, a prolongada insuficiência de pessoal, sobretudo entre os patrulheiros de muitos postos territoriais, bastante provocada pelo empenhamento em novas missões sem o correspondente aumento de efectivo, origina forte sobrecarga de trabalho que reduz drasticamente as folgas para assistência à família e os necessários períodos de descanso para recuperação individual; acresce, em muitos casos, verificar-se em simultâneo que o serviço envolve um agravamento da quantidade e da qualidade da criminalidade que se conjuga com sentimentos de falta de apoio legislativo e judicial, implicando prolongado desgaste físico e psicológico; acontece ainda haver influência de vários factores de instabilidade, ligados à chamada reestruturação em curso, como grandes alterações no dispositivo a extinguir e criar unidades, transferências de local de trabalho, colocações inconvenientes para a família, atrasos em promoções, desequilíbrios remuneratórios, tudo ocasionando um clima de incerteza.
A Guarda enquanto instituição desde há muito tem revelado capacidade para superar sucessivas situações de sobrecarga, sacrifício, incerteza e instabilidade. As instituições não existem sem pessoas e a Guarda é uma instituição que tem vindo a evoluir há mais de duzentos anos, acompanhando a sociedade de que é parte. Formada por pessoas organizadas numa profissão, encontra-se condicionada pelos quadros legais que a enformam, pela legitimação social e pela capacidade de empenhamento dos seus recursos humanos. Nestes últimos tempos tem vindo a tornar-se preocupante, porventura sinal de alerta, o número inusitado de suicídios entre militares da Organização. Questiona-se: quais as causas? Num imediatismo interessado, superficial na argumentação, associações profissionais passam para a comunicação social, que amplia, a ideia de que “não têm dúvidas que a «pressão» que se vive na instituição e a «desumanização» com que os militares são tratados pelas hierarquias estão a contribuir para o problema”. (Gina Pereira, JN de 10OUT09)
Entre as hipóteses de explicação mais urgentes a investigar coloca-se a da prolongada sobrecarga de trabalho, possível causadora de fadiga, entendida esta como resultante de trabalho excessivo e penoso. Para avaliar o que se passa com os recursos humanos, podemos, forçando um pouco a nota, recorrer ao modo como a Física encara a mecânica dos materiais, estudando aspectos relacionados com os fenómenos de instabilidade, fadiga e fluência de materiais. A analogia permite admitir que também às organizações e aos seus recursos humanos – metal precioso - é aplicável a lei da fadiga dos metais, tornando evidente que os poderes de enquadramento têm que encarar a cedência à tensão que ultrapassa as suas capacidades. Ao atingir os poderes de enquadramento, as organizações e os profissionais, esta tensão que provoca o cansaço das estruturas metálicas deve, portanto, ser tida em conta também em relação aos agentes de autoridade que exercem a função polícia, por maioria de razão àqueles que têm o estatuto de dupla servidão, militar e policial, como é o caso dos profissionais da Guarda.
Colhendo no recente livro de Adriano Moreira “A Circunstância do Estado Exíguo”, “Uma pequena potência … tem interesse em consolidar o património cultural que tem espalhado pelo mundo e que é a forma visível do Quinto Império.”
O Professor lembra o exemplo da Restauração de 1640, em que o padre António Vieira se empenhou decisivamente, não hesitando em invocar o sebastianismo, nem em proclamar a confiança num futuro Quinto Império, procurando realizar “a mobilização interna e o reconhecimento externo da independência recuperada.”
Entre os muitos pensadores e políticos lusófonos, incluindo os utópicos do Quinto Império, de Vieira a Agostinho, estas perspectivas tiveram apoio, acabando por dar corpo à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Esta terá sido uma meta conseguida em favor da espiritualidade, evidenciando capacidade para construir “um projecto assente na lúcida compreensão de que princípios e valores culturais asseguram as solidariedades de longo prazo, para além das diferenciações…”
Actualmente instituída, a CPLP corresponde à ideia proposta por Agostinho. Porém, projectando o Quinto Império, “é ainda uma luz que os ventos agitam, e que exige adesão, vontade e persistência em adiantar o caminho escolhido entre todos os possíveis”. Acontece que a incerteza está globalizada e muito condiciona o projecto, envolvendo o Brasil, esperança maior de Agostinho, sendo que o valor espiritualidade não é um requisito da política mundial. Permanece a afirmação de Agostinho da Silva: “o único defeito do Quinto Império para mim é chamar-se império”.
Muito em linha com o projecto do Quinto Império podemos considerar realizações lapidares da iniciativa de Adriano Moreira, como os “Congressos das Comunidades da Cultura Portuguesa”, em 1964 e 1966, e a “Academia Internacional de Cultura Portuguesa”; e, profundamente actual e urgente, o projecto do “Oceano Moreno”.
Os sonhos dão corpo à utopia e desenham o futuro.
“É claro que acredito no Quinto Império”
Agostinho da Silva
Dando continuidade ao mito do Quinto Império, destaca-se, mais próximo, Agostinho da Silva, filósofo, poeta, ensaísta e pensador, empenhado na prática para a mudança da sociedade.
Assumiu peremptoriamente acreditar no Quinto Império, “porque senão o acto de viver era inútil.” A utopia consiste em conceber um império sem os clássicos imperadores, que leve às nações do mundo uma filosofia capaz de abranger a espiritualidade, envolvendo toda a Humanidade. Agostinho intitulava-se cavaleiro do Espírito Santo e defendia que tal império viria pelo poder da oração.
Colhendo na seara de Adriano Moreira, “O sebastianismo não parece ser apenas a carência e esperança de uma liderança redentora … Do padre António Vieira a Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, a saudade do futuro, com expressão no Quinto Império, traduz assim a teimosa esperança de retomar o fio da história quebrado em Alcácer Quibir…”.
Perante as contingências impostas pelo mundialismo a Portugal, Agostinho da Silva questionava: “O Império acabou. E agora?” Constatando-se que a revolução de Abril de 1974 não foi propícia a seguir a visão orientadora chamada Quinto Império, de Vieira e Pessoa, colhe a conclusão: “Pode ser que o Rei não tenha morrido em Alcácer Quibir… mas definitivamente o Rei morreu nos treze anos da Campanha de África a que o 25 de Abril colocou um ponto final.” E, na senda do Quinto Império, inquietava-se com a falta de projecto, à semelhança do realizado por Viera ao advogar que a dinastia de Bragança abandonasse o território europeu para se instalar no Brasil.
A ideia central do Brasil como esteio também foi projectada por Agostinho, que mantendo a invocação da confiança em Deus, advogou no plano político a criação de uma Comunidade Luso Brasileira, muito orientada por valores religiosos e culturais.
Embora mantendo-se alheio a qualquer ortodoxia, parece evidente que a cultura cristã tem a ver com clara aproximação à igreja portuguesa, designadamente quando afirma que “Deus é sempre duplo, aquele que é, e aquele que eu entendo; a este chamo Cristo”. Assim, interessando-se pelo lado humano, o seu ideal de santidade e um comportamento despojado empurravam-no para a utopia.
Tendo mergulhado profundamente na sociedade brasileira, procurou integrar os contrários seguindo a ideia de Fernando Pessoa de que a comunidade seria sobretudo um estado de espírito, sem raiz étnica, sem limites ao acolhimento, uma visão do que é ser português. Vagabundeando largamente, Agostinho multiplicou as amarras do espírito que havia de sobreviver à derrocada política da sociedade, explicitando assim a sua sentença: “só então Portugal, por já não ser, será.” É uma visão do Quinto Império, em que os homens de referência, em vez de guerreiros e conquistadores, são “mensageiros que profetizam para além dos tempos; ou dito de outro modo, fazendo valer o tempo longo dos princípios sobre o tempo breve das conjunturas”.
Triste de quem vive em casa, ...
Sem ... um sonho, no erguer de asa...
Triste de quem é feliz!
Vive porque uma vida dura.
Nada na alma lhe diz ...
Ser descontente é ser homem.
Que as Forças cegas se domem
Pela visão que tem uma alma! ...
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será theatro
Do dia claro, ...
Quem vem viver a verdade?
Fernando Pessoa - MENSAGEM
A utopia do destino universalista de Portugal foi assumida durante séculos pela maioría dos pregadores da Igreja ncional portuguesa, como forma de congregar a nação no esforço para resolver crises graves.
É relevante o padre António Vieira que, no século XVII, pregou sobre o Quinto Império, inspirado por profecias bíblicas e integrando as do Bandarra, com uma finalidade evidente de restabelecer o velho sonho da grandeza de Portugal. Destacando-se como paladino do sonho milenarista do Quinto Império, para ele realidade futura de cujo advento se não podia duvidar, pois tinha por alicerce uma promessa divina, evocou, à maneira de exemplo a seguir pelos Reis, os sonhos do Faraó e de Nabucodonosor como prenunciadores do Futuro.
A alusão ao Quinto Império fá-la inequivocamente, inscrevendo-a como um feito português na sequência dos quatro anteriores impérios universais: os dos assírios, dos persas, dos gregos e dos romanos.
Fundamentando-se nas Escrituras sagradas e nas falas sobre o imperador que Jesus prometera à Igreja, Vieira afirma-se convencido de que o Quinto Império só pode ser português.
Invocando a fala então incontestada de Jesus ao rei Afonso Henriques em Ourique - "Quero em ti e na tua geração criar para mim um Império" - Vieira elabora na linguagem vaga e esotérica das profecias no sentido de que o Quinto Império seria de ordem temporal e espiritual, guiado por Portugal.
Ao respigar o "livro-Maior" de Fernando Pessoa ganha vulto uma utopia do Quinto Império - agora reformulada face a Grécia, Roma, Cristandade e Europa colonial que viveram no auge, envelheceram e tiveram morte pelo desaparecimento.
O Quinto Império sonhado pelo poeta é uma abstracção, traduzida na expressão "Quem Vem viver a Verdade?", na acepção de Luz, Cultura e sendo entendida como "Quem vem viver o Quinto Império?".
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