Admitida a ideia de estar em curso uma autêntica revolução civilizacional, precursora de acesa instabilidade e geradora de insegurança seguidas por crises diversas e sucessivas, revela-se conveniente realizar algumas conjecturas sobre o evoluir dos processos de mudança acelerada.
Embora sendo optimistas por opção, somos fortemente pressionados por uma conjuntura tendencialmente pessimista, o que aconselha ao esforço de fazer juízos temperados por equilíbrio na procura de realismo.
Na tentativa de seguir tal caminho, temos vindo ultimamente a reflectir “Sobre Ordem Pública” (revista Segurança e Defesa, Nº 19) e em sentido oposto a “Pensar a Desordem” (revista Pela Lei e Pela Grei, Nº 92); tendo prosseguido com o levantamento de alguns “Perigos Duradouros” (revista Segurança e Defesa, Nº 20), afigura-se oportuno avaliar até que ponto não estará a sociedade portuguesa a passar “Da Ordem Pública à Desorganização Social”.
Prosseguindo o esforço no sentido de efectuar uma abordagem centrada na sociologia, liminarmente, convém assumir com clareza alguns conceitos basilares. Assim, entende-se que Sociedade é um tipo de sistema especificamente definido por um território geográfico -- que poderá ou não coincidir com as fronteiras de Estado-Nação -- dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vida comuns, em condições de autonomia, independência e auto-suficiência relativas; e que em certos casos adopta a forma de Estado, isto é, uma sociedade perfeita, politicamente organizada, que exerce autoridade própria para gerar e aplicar Poder colectivo. Para descrever a relação entre os Cidadãos e o Estado tem sido metaforicamente usada a expressão Contrato Social; a partir desta ideia é estabelecida uma Ordem Social -- que abarca o conceito mais restrito de Ordem Pública -- visando conseguir a coesão do colectivo, diversos sistemas são mantidos integrados e exercem o Controlo Social, por meios institucionais e outros métodos capazes de assegurar que indivíduos e grupos obedeçam a normas e sustentem valores; refere-se aos padrões relativamente previsíveis de comportamento e experiência que caracterizam a vida nos próprios sistemas referidos como Organização Social, a qual formalmente organizada é um sistema social estruturado em torno de metas específicas.
Quando se verifica o facto de não se seguirem as vias traçadas pelos modelos de comportamento, pelas normas institucionais que dirigem a conduta colectiva -- como inconformismo, excentricidade, contestação, delinquência -- considera-se a ocorrência de Desvio Social; quando se verifique o rompimento de consenso entre os membros de uma sociedade, que deixam de obedecer a normas de comportamento homogéneas, desequilibrando assim o sistema de reciprocidade da organização existente, a perda ou a falta de organização pode assumir a designação um tanto vaga de Desorganização Social; a desorganização pode referir-se a aspectos particulares da vida em sociedade -- falta de integração, conflitos entre grupos, luta de forças ou ideologias opostas, tensões entre as funções diversas -- ou pode ser mais fundamental e afectar toda a vida social nas suas estruturas e nas suas instituições – crises, subversões, revoluções.
O desenvolvimento da complexidade crescente das relações internacionais e a procura de uma Nova Ordem Mundial propiciaram a utilização terminológica da nova ideia de Desordem Mundial. Esta situação tem vindo a dar azo a que em muitos países em vez de uma ordem pública se encontre aquilo que vai sendo chamado de anarquia madura; e justifica o esforço no sentido de esboçar um quadro de acontecimentos, situações, factores que – frequentemente em nome dos Direitos Humanos – dificultam e contrariam a estabilidade da Ordem Pública e induzem e facilitam o descontrolo desta.
A noção de ordem sugere a ideia de coisas bem alinhadas, cada qual no seu lugar; nos seres humanos implica tranquilidade, disciplina, obediência; a nível social consiste na submissão dos elementos de uma sociedade às normas, valores e leis em vigor. Na linguagem corrente, a palavra desordem significa falta de ordem, desarranjo, desalinho, motim, barulho, confusão, implicando ausência de tranquilidade, de paz, com tendência ou mesmo instalação de desorganização social. Pode a desordem ser veículo de contestação social, promovendo desagregação ou procurando caminhos para a mudança; de qualquer modo, afecta a coesão e reflecte-se na ordem social. Perante tal quadro, permita-se o atrevimento de sugerir como aplicável a novidade terminológica de Desordem Social. Sem nos determos nas ameaças conhecidas e emergentes ligadas com a proliferação da criminalidade e das incivilidades, são de levar em conta alguns aspectos nem sempre lembrados nem tidos como factores a considerar mas que, ao menos de forma indirecta, afectam negativamente a Ordem Social em geral e a Ordem Pública em especial. Enunciámos já as crises internacionais, certas características paradoxais da cultura do português, a sociedade espectáculo, os jogos de poder, a tendência de queda do poder na rua, a manipulação da comunicação social, a ligeireza das opiniões e a carência de pareceres bem fundamentados, a instabilidade crescente até nas forças armadas e de segurança, a competição menos saudável entre instituições e as vulnerabilidades nas forças de segurança; podem ainda acrescer a alteração de valores, o relativismo moral, a degradação dos costumes, o alheamento, o laxismo, a anomia… É claro que tudo isto, em doseamento razoável, faz parte da Dinâmica Social, mas, quando se formem diversas espirais em simultâneo e se desenvolvam em turbilhão, pode ser muito alto o risco de se instalar a Desorganização Social e entrar rapidamente em Desordem.
Convém lembrar que os governos só governam enquanto lhes obedecem. E numa sociedade desorganizada e em desordem pode tornar-se inviável governar em regime democrático.
Conforme a herança legada por Margaret Thatcher, em A Arte de Bem Governar (Quetzal, 2002), das estratégias para um mundo em mudança e da competência dos estadistas, ao longo dos séculos têm variado a ênfase e o conceito de Estado. A recente tendência para a globalização apenas mostra que actualmente é muito mais difícil governar, acontecendo porém que “Os Estados conservam a sua importância fundamental, em primeiro lugar porque só a eles cabe a definição dos quadros jurídicos nacionais… Em segundo lugar, os Estados são importantes porque ajudam a definir um sentido de identidade… Em terceiro lugar, só aos Estados está reservado o direito ao exercício do poder coercivo legítimo, o poder necessário para suprimir a criminalidade doméstica e para garantir a segurança contra ameaças vindas do exterior. Esta função coerciva do Estado, ainda que possa de algum modo envolver a contratação de privados, nunca pode, nem deve, ser alienada. O Estado é algo diferente da sociedade, é o supremo servidor, e não o senhor, de cada ser humano individualmente considerado; a sua capacidade para infligir o horror permanece tão grande quanto sempre foi. Todas estas coisas são verdadeiras. Mas a realidade é que precisamos e sempre precisaremos do Estado.”
No seu quase testamento político, a senhora Thatcher afirma-se partidária de uma governação alicerçada em princípios, desde que não sufocada por eles, sugerindo três axiomas a ter em conta pelos governantes: o alargamento da democracia a todos os povos; uma ordem internacional sólida e segura; fazer tudo para evitar a guerra.
O mundo continua a ser o mesmo, mas passou o tempo das ilusões: fala-se muito de direitos humanos e cuida-se pouco de segurança; gasta-se mais com benefícios sociais e diminuem-se os gastos com a defesa, consentindo no relaxamento dos serviços de Informações e de Segurança. Dito de outro modo, mais à nossa maneira, sacralizam-se os direitos e ignoram-se os deveres. Isto num mundo que continua a ser muito perigoso e no qual é imprescindível que o Ocidente se mantenha activamente vigilante, de modo a garantir a sobrevivência da nossa civilização
No mesmo sentido, não pode deixar de ser tido em conta que os responsáveis editoriais e os jornalistas alinham e reagem favoravelmente quando são bem "motivados", o que pode ser feito de muitas maneiras. De qualquer modo, o Emissor de Comunicação tem que trabalhar para ter do seu lado fazedores e líderes de opinião, o que é trabalho de fundo e não propriamente de ocasião.
Não pode ser menosprezado o facto de existirem pessoas, grupos, movimentos, organizações, desafectos ao Emissor, os quais farão o que puderem para diminuir ou apagar o acontecimento. Principalmente em televisão, só tem existência o que se vê. A partir daqui, os acontecimentos de facto podem passar a ser "não acontecimentos" na Opinião Pública.
Tudo isto e muito mais coloca em evidência quanto pode ser importante a acção de redes sociais, fazendo circular ideias, reagindo a circunstâncias adversas, em termos correctos, ponderados, abrangentes e quase imediatos. É oportuno lembrar que, no caso do Emissor Guarda, existem uns milhares de reformados, com famliares e amigos, inseridos nas comunidades a que pertencem, que motivados e orientados podem pesar bastante na formação das correntes de opinião pública.
Mas “não há Bela sem Senão!” São múltiplas as técnicas de Comunicação a que se torna necessário estar atento.
MANIPULAÇÃO MEDIÁTICA
Avram Noam Chomsky, filósofo e activista político americano, professor de Linguística no MIT, está associado à criação de uma abordagem que revolucionou os estudos no domínio da linguística teórica. É também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pela sua crítica da política externa dos EUA. Descreve-se como um socialista libertário, havendo quem o associe ao anarco-sindicalismo e mesmo quem o considere escritor maldito.
Numa abordagem despida de espírito crítico, para ampliar em termos realistas algumas ideias sobre Comunicação, há que incluir a lista de Chomsky acerca das regras de manipulação dos princípios sociais e económicos de modo a atrair o apoio inconsciente dos media para a manipulação. É referência para este efeito a versão de José Mauro Rodrigues sobre as Visões Alternativas de Chomsky.
1. Promover a distracção
O elemento primordial do controlo social é a regra da distracção, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e económicas. Consiste em inundar os meios de comunicação com distracções contínuas e notícias sem importância.
Distrair é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais nas áreas da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.
Trata-se de manter a atenção do público longe dos verdadeiros problemas sociais, atraída por temas sem importância, ocupada, sem nenhum tempo para pensar.
2. Criar problemas e oferecer soluções
O método consiste em criar uma situação que se espera causar certa reacção no público, de modo a que este suplique a aplicação das medidas que se pretende fazer acatar. Por exemplo:
- deixar que se desenvolva e se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos a fim de que o público seja o requerente de leis de segurança e políticas, em prejuízo da liberdade;
- gerar e agravar uma crise económica para que o povo aceite como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
3. Actuar com gradualidade
Para conseguir que seja aceite uma medida inadmissível, basta aplicá-la gradualmente, em pequenas doses, ao longo do tempo. Desta forma, as novas condições são aceites sem provocar revoltas.
4. Gerar aceitação pelo adiamento
Uma decisão impopular, é apresentada como “dolorosa e necessária”, conseguindo obter num dado momento a aceitação pública para aplicação futura, mais facilmente acatável do que um sacrifício imediato.
Deste modo, não há esforço imediato e a massa ingenuamente crê que “amanhã tudo irá melhor” e conseguirá evitar-se o sacrifício exigido. Assim, dá-se tempo para instalar habituação à ideia da mudança e resignação no acatamento quando chegar o sacrifício de facto.
5. Dirigir-se ao público como imaturo
O público utiliza com frequência discursos, argumentos, personagens e entonações característicamente infantis, muitas vezes próximos da debilidade, como se os receptores fossem criaturas de pouca idade ou deficientes mentais.
Quanto mais se procura enganar a audiência, mais se tende a adoptar um tom infantil. “Porque ao dirigir-se a uma pessoa como se tivesse 12 anos ou menos, tenderá, por sugestão, a adoptar respostas ou reacções mais infantis e desprovidas de sentido crítico”.
6. Utilizar a emoção mais do que a reflexão
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para curto-circuitar a análise racional e neutralizar o sentido crítico dos indivíduos.
Além disso, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar e injectar ideias, desejos, medos, temores, compulsões ou induzir a determinados comportamentos.
7. Manter o povo na ignorância e na mediocridade
Fazer com que o público seja incapaz de compreender a tecnologia e os métodos utilizados para conseguir o seu controlo e escravidão.
“A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância entre estas e as classes altas permaneça inalterada no tempo e seja impossível alcançar uma autêntica igualdade de oportunidades para todos”.
8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade
Fazer crer ao povo que está na moda a vulgaridade, a incultura, o ser mal falado ou admirar personagens sem talento ou mérito algum, o desprezo ao intelectual, o exagero do culto ao corpo e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal.
9. Reforçar o sentimento de culpa pessoal
Fazer crer ao indivíduo que ele é o único culpado da sua própria desgraça, por insuficiência de inteligência, de capacidade, de preparação ou de esforço.
Assim, em vez de rebelar-se contra o sistema económico e social, o indivíduo se desvaloriza, se culpa, gerando em si um estado depressivo, que inibe a sua capacidade para reagir. E sem reacção não haverá revolução.
10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmo se conhecem
Nos últimos 50 anos, os avanços da ciência geraram uma crescente brecha entre os conhecimentos do público e aqueles utilizados pelas elites dominantes.
Graças à biologia, a neurobiologia e a psicologia aplicada, o Sistema tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicológica.
O Sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se conhece a si próprio. Isto significa que, na maioria dos casos, o Sistema exerce grande controlo e poder sobre os indivíduos, superior ao que pensam que realmente têm.
Numa tendência moderadamente optimista, mas sem ignorar factores pessimistas, parece oportuno repetir insistentemente a INTERROGAÇÃO GRITANTE, já aqui publicada em 10 de Abril pp. Em versão sumária, cá vai de novo a questão, que pretende motivar reflexão e desafio à tomada de consciência.
O filósofo Miguel Real aponta e descreve quatro complexos culturais identificáveis e que ao longo de oito séculos criaram a identidade de Portugal e do homem português:
- o complexo viriatino
- o complexo vieirino
- o complexo pombalino
- o complexo canibalista: “um homem e um país mesquinhos, venenosos e bárbaros, permanentemente ansiosos de purificação, … criando correntes políticas e intelectuais que tèm apenas sobrevivido da canibalização das correntes adversárias, negando-as e humilhando-as.” De 1580 até 1980, os portugueses devoraram-se uns aos outros numa autêntica culturofagia, destruindo e esmagando os adversários considerados como inimigos de morte, alvos a abater, cujas obras devem desaparecer. E grandes figuras nacionais abandonam desalentadas, exilam-se, suicidam-se …
Interrogação gritante:
Qual destes complexos se afirma preponderante no Portugal e no português actuais, considerando os tristes espectáculos mediatizados que agridem, esmagam visões e vivências???
Afigura-se como ameaça a eventual prevalência do complexo canibalista.
Caso tal se mantenha activo, creio que vai demorar a conseguir a indispensável coesão social.
Mátria, Cidade, Pátria, Nação, Sociedade, Estado, são termos que envolvem conceitos diferenciados e nem sempre bem entendidos. Todos eles se projectam na realidade territorial, cultural, política, social que hoje celebra os quase nove séculos da identidade histórica bem marcada e da individualidade política continuadamente afirmada de Portugal.
Compete aos cidadãos enaltecer a Cidade, assumindo toda a sua História; lembrar os seus maiores, sem excluir os menos bons; organizar a sociedade, garantindo segurança, justiça e bem estar; promover um futuro melhor para as gerações vindouras; manter como desígnio a persistência no sonho de construir um mundo melhor.
É tempo de os portugueses tomarem consciência daquilo que já foi descoberto e afirmado por estrangeiros:
Portugal deixou de ser apenas um marco geopolítico e constitui hoje uma realidade cultural muito mais ampla, que tem fundamentação na "Era Gâmica", no "Mundo Que o Português Criou", no "Lusotropicalismo", no "Oceano Moreno"... Tudo isto e muito mais, distinguindo entre portuguesismo provinciano e Portugalidade universalista, veiculado pela Lusofonia a cultivar e alastrar por mares e continentes já navegados.
Nos tempos altamente instáveis da revolução civilizacional em curso - caracterizados pela destruição e pela renovação de estruturas - e que promete prolongar-se, há que cuidar do Eixo da Roda, garantindo que esta continui a girar. No âmbito da segurança, há que optar claramente por uma Guarda de Confiança, que se constitua como um forte esteio da Cidade. Isto, apesar de a Guarda incomodar muita gente e estar cercada de vontades de a deitar abaixo: ambições corporativas e pessoais de um lado; procura de espaços para sobreviver, de outro lado; procura de afastamento da concorrência investigatória de outra banda; tentativa para afastar concorrência demonstrativa de condutas sinuosas, ainda de outra banda; tentativa para incapacitar a Guarda, por parte da criminalidade organizada, da alta corrupção, de diversos "ismos", todos interessados num clima de roda livre e de quanto pior melhor...
Embora se apresente grande a desproporção das forças em presença e algumas acções insidiosas já venham actuando, a Guarda ainda tem capacidade para resistir e prevalecer. Nas Termópilas, apenas trezentos, resistiram e criaram condições para salvar a Cidade. A bem da Lei e da Grei, aqui vão os melhores votos no Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades, da Portugalidade e da Lusofonia.
Continuando a seguir o livro “Quem se Abstém?”, do professor Jorge de Sá, adquire-se que investigações realizadas anteriormente indicaram que os abstencionistas não constituem um grupo homogéneo, dominado por uma qualquer apatia sistemática e irrecuperável, antes são diferenciáveis numa segmentação, que identifica dois tipos principais:
Considerando as circunstâncias eleitorais como um mercado imperfeito, está indicado que os partidos diferenciem a actuação a produzir do lado da oferta e as técnicas de segmentação do mercado a utilizar do lado da procura. De qualquer modo, para combater a abstenção há que mobilizar os eleitores fazendo uso de técnicas de marquetingue de massas, de diferenciação de produto e de segmentação do mercado. Como são diferentes as causas está indicado diferenciar os tipos de eleitores, escolhendo dentre eles os alvos mais adequados para mobilizar.
“Assim, haverá que distinguir entre uma abstenção de força maior … e a abstenção voluntária.”
Quando associada às características dos indivíduos, a abstenção pode estar também relacionada com os contextos eleitorais
Se houver uma duradoura condicionante política e social, a abstenção torna-se estrutura; já a comunicação política, o carisma dos líderes, a representação social, o grau de politização, condicionam a conjuntura da abstenção.
Para se conseguir conhecer a realidade do abstencionismo eleitoral, há que ter em conta varáveis psicológicas, sociológicas, económicas, culturais e políticas; e considerar como centrais as características dos eleitores. “… em Portugal a propensão à abstenção baixa significativamente quando aumenta o grau de escolaridade dos cidadãos e, de todas as variáveis consideradas, esta é aquela que apresenta a maior correlação com aquela propensão abstencionista.” Tal correlação não esconde outra, também significativa mas bastante menor, entre a propensão para a abstenção e a estratificação socioeconómica.
Torna-se também evidente a influência da idade, cujos estudos de correlação permitem concluir que “os mais jovens votam significativamente menos que os restantes eleitores, sendo que as menores propensões à abstenção se encontram entre os eleitores com idades entre os trinta e os cinquenta e nove anos. … em Portugal, os mais velhos (após os 60 anos) apresentam-se menos às urnas… entre os cidadãos com menos de trinta anos, um menor grau de escolaridade, o facto de ser solteiro e não terem iniciado uma carreira profissional estão significativamente associados a uma maior propensão à abstenção eleitoral.”
Jorge de Sá chama a atenção para o facto de a escolaridade e o trabalho constituírem duas poderosas alavancas de integração social que têm vindo a esbater as diferenças de género; refere uma maior propensão ao voto por parte dos casados; analisa a influência da religiosidade, designadamente da católica; e em termos concludentes faz notar que “a abstenção eleitoral voluntária se encontra profundamente associada com a integração social dos cidadãos”. E coloca em especial evidência “o nível preocupante que a abstenção eleitoral atinge entre os mais novos”.
Tudo isto, afinal, reforça a ideia de que quem se abstém de ir às urnas está a render-se, abdicando de defender os seus interesses através do voto democrático e adoptando comportamentos que favorecem a desagregação social. Acresce que uma abstenção muito elevada pode colocar em causa a legitimidade dos resultados eleitorais, pode provocar forte instabilidade social e política, pode entrar numa espiral de insegurança difícil de controlar.
No alvor dos anos 30 do século XX, em plena crise económica da Grande Depressão, antes da confrontação bélica, Winston Churchill escreveu um poderoso “Apelo à Nação”: “Apoiem as nossas Forças Armadas!” Perante a ameaça crescente do totalitarismo nazi, alertou repetidamente a Nação, mas os avisos caíram nas orelhas moucas dos políticos e a II Guerra tomou conta do Mundo, com custos em vidas e dinheiro muito superiores aos que poderiam ter diminuído ou mesmo evitado a confrontação bélica.
O mundo de hoje é um lugar extremamente perigoso, em evolução caótica e vertiginosa. É obrigação primeira de qualquer governo defender a Nação, os cidadãos e os seus interesses vitais. O incêndio já lavra no Médio Oriente, alastra velozmente pelo Norte de África e não vai poupar Portugal nem esperar nem dar tempo para rearmar.
Sendo certo que o grande conflito, cuja hipótese é cada vez mais provável que se realize, não é previsível travar-se entre forças armadas clássicas, urge cuidar da Segurança e da Defesa do Estado nos lugares, pelos modos e meios adequados. Não sendo belicista, recusando o militarismo, há que permanecer patriota e realista. Sem ignorar a importância das Forças Armadas, garantir a Segurança Interna é uma forma indiscutível de afirmar soberania.
Desguarnecer e desorçamentar as Forças e os Serviços de Segurança é caminho suicidário.
Numa conjuntura em que o Exército territorial tem vindo a reconverter-se em unidades projectáveis, desmilitarizar, civilinizar ou extinguir a GNR atrás do mito de uma polícia única, com base em argumentação ilusoriamente economicista ou fanaticamente antimilitarista, é destruir a única Força de Segurança com um dispositivo militar de quadrícula presente em todo o território e nas áreas costeiras nacionais.
É tempo de alertar os cidadãos para a importância da Guarda como esteio militar da Segurança Interna e força colaborante da Defesa solidamente implantada no terreno e junto das populações.
Há que apelar à Nação: Apoiem as Forças e Serviços de Segurança em geral e a Guarda Nacional Republicana em especial!
O Menino presenteou-me no sapato com uma prenda de Natal oriunda do Brasil.
Os Reis proporcionaram-me acesso a uma oferenda também vinda do Brasil.
Não resisto a partilhar!!! Eis o Bolo Mágico:
J’ACUSE !!!
(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)
« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)
Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.
No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...
E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”
Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...
Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;
EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;
EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;
EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;
EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;
EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;
EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;
EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;
Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.
Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário.
Os períodos de insónia que habitualmente permitem reflectir sobre assuntos complexos relacionados com segurança, polícia e GNR, são povoados por sonhos propiciadores mas incluem também pesadelos agoirentos.
É assim que alguns fantasiam um futuro promissor, ridente e duradoiro para a Guarda. Outros identificam ameaças, avaliam perigos e esboçam crescimento de riscos sobre a evolução e prevalência da GNR. Percorrendo caminhos diversos, miragens e pesadelos acabam por atingir cruzamentos de percurso onde colidem com os projectos desenhados por outros actores da segurança nacional.
Ultimamente, talvez fruto da proliferação de revoluções, crises e ambições, acima de devaneios oníricos adivinham-se perigos veiculados pelos fantasmas de César e de Fouché, que esvoaçam sequiosamente sobre a Guarda.
Uma vez “assombrado”, não é possível ignorar nem menosprezar sinais concretos, em que elementos da Polícia civil aceitam passivamente o desejo das FA de entrarem na segurança interna com a mudança na Constituição, patenteiam desinteresse e alguma complacência, dizendo que o Exército deve ter missões, que os seus quadros precisam de ocupação e afirmando que a “colaboração” é bem-vinda!
Ao mesmo tempo, em contactos individuais com pessoal do Exército, detecta-se o claro desejo de alargar competências exercendo missões na segurança interna, argumentando que a força policial de natureza militar já existente não é suficiente perante o quadro de novas ameaças.
Reflectindo nestes casos, sobre um cenário pessimista, há quem imagine possíveis manobras para desmembrar a Guarda, que serviriam propósitos de elementos do Exército e da PSP. Imaginam-se planos e projectos em que ambas as partes ficariam a ganhar: com a criação de uma Polícia nacional e o alargamento territorial a Polícia civil absorvia o grosso da Guarda Territorial, aumentando a sua dimensão; e os músculos da GNR (UHSE, UI, GIPS, UCC) passariam para o Exército, ficando uma pequena «Guarda nacional», como espécie de unidade ou exército de reserva, pronta a intervir na ordem interna nas situações previstas na mudança da Constituição. Aparentemente, ficariam todos a ganhar. Quanto aos guardas, uns perdiam a condição militar e a carreira, passando para a Polícia; outros, uma minoria militar escolhida a dedo, ingressariam no QP do Exército.
Encarando esta perspectiva, não se verificando diferendo entre civilismo e militarismo, de modo tácito ou concertado, os fantasmas de Fouché e de César uniriam esforços à boa maneira de Maquievel. Havendo interesse das duas partes, seria apenas uma questão de tempo espreitar a oportunidade favorável para anular e despojar a Guarda, dividindo as suas valências. Este “sonho mau”, além de várias minudências “reestruturantes” de facto, corre em uníssono com o movimento em curso, por iniciativa de elementos que se dizem da Polícia civil, promovendo uma petição para fusão policial a entregar na Assembleia da República; encaixa no fluxo em trânsito não num cruzamento clássico mas numa rotunda, onde já circulam motos de parada da PE e se realiza a entrada de blindados para a PSP.
É um conjunto de conjecturas e factos preocupantes, que implica cuidada ponderação e parece indispensável tratar abertamente, abordado quanto possível com carácter holístico, antepondo-se a interesses sectoriais.
A humanidade, fruto do cada vez mais acelerado desenvolvimento tecnológico, tem vindo e continua a sofrer uma revolução comunicacional, tendo acontecido que passou a viver numa "aldeia global", a caminho de construir a sociedade da informação, promovendo o nascimento de um Quarto Poder e originando uma revolução cultural.
A globalização dos mercados agravou as condições dos mais pobres, alterando não apenas a dimensão mas também a natureza da economia. Esta, veio também alterar a importância tradicional dos instrumentos de aquisição de poder da produção industrial da Segunda Vaga, atribuindo primazia sobre a força e a riqueza ao conhecimento da Terceira Vaga, provocando uma autêntica revolução civilizacional.
A modernidade, entendida como sucessão de rupturas com o passado, implica consequências que podem ser positivas e negativas. É sabido que as revoluções destroem estruturas existentes à sua passagem. A soma do desenvolvimento tecnológico com a sociedade da informação e do conhecimento e com a globalização económica origina dramas colectivos e arrasta milhões de dramas individuais. Daí, talvez, poder concluir-se que o drama das mudanças é demasiado forte por se juntarem várias revoluções ao mesmo tempo.
Os homens e as sociedades conhecem grande instabilidade, sofrendo o “choque do futuro” associado com as mais diversas ameaças geradoras de insegurança factual e subjectiva. Daqui, a cada vez maior e mais complexa necessidade de “adivinhar perigos”, procurando conhecer as condições dos ambientes no tocante a segurança, de modo a conseguir prever acontecimentos nefastos e antecipar medidas para os evitar, para deles se proteger ou para os combater.
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